quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Museu de Memórias


E quando findo o mais derradeiro dos primeiros amores
E o mais permissivo dos amores proibidos
Faz-se da lembrança o único museu de memórias
Do mais amável dos amores não vividos

E da premissa do sentimento escondido
Outrora triste, lascivo e contumaz
A promessa do escancaro descabido
Saudosista e renitente em olhar pra trás

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Psicografia


Tua presença é um convite a praticar o apego
À vida, felicidade e à paz suficiente pra contemplar tua beleza
Que já não é da vida posto que traz consigo a morte
De todos os dogmas e seres q habitavam em mim
Cavalgando meu corpo, arena de nadas
E q hoje é teu, para o deleite de mim mesmo
Que sou o único ser q mora em meu corpo masculino
Mas com tua alma de mulher

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Soneto do Fim


Não te sintas culpada que dói
A dor do "não" é menor que a do "eu também" constrangido
O tempo, ardiloso, corrói
E o sabê-lo é melhor que o fingido

Olvidado e distante o passado
Fatigando o sorriso da gente
Indelével o "erro" de fato
Mitigado no corpo presente

E a chama que ardia nos corpos
Já não é com tais corpos mais quente
Não se bastam, se finda, portanto

E coloca guardado num canto
Sem devido cuidado ou modos
O que foi soberano e pungente

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Muda


Ela tinha a singeleza de uma gazela abaixada atrás da moita, quase imperceptível e comendo mato. Comia muito, quase tudo que era verde, e só verde, talvez algum azul ou amarelo lhe apetecesse, mas era do verde que ela se alimentava, singela, como gazela atrás da moita.
Mal a viam, não se ouvia um pio, sem o único pio de um pinto que morre logo em seguida. Não mata pintos, come apenas verde, muito verde, como gazela atrás da moita.
Muda, ali perto da usina, ali era a moita. Muda, jamais se mudou dali, do bairro perto da usina. Muda, ali nasceu e assim viveu, sem dar um pio, menos que um pinto que morre em seguida, talvez um pinto natimorto, mas tinha vida, ninguém via, mas tinha vida. Na verdade só eu via sua vida de gazela atrás da moita.
E seu olhar tinha um anelo e me olhava com a cumplicidade que só um cão poderia mirar. Sorria muda, na tijuca, o bairro perto da usina, sem um pio, como um pinto natimorto, só que com vida, que ela não tirará, pois só come verde, talvez algum azul ou amarelo lhe apeteça. Atrás da moita, me olhando com a palidez de um cadáver e com o sorriso velado da compreensão escancarada diante de minha inércia covarde e humana.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Oasis de Olhos


Me parecia que a beleza do mundo morava ali, entre suas orelhas e a boca, bem ali, em suas indefectíveis bochechas rosadas. 
Elas tinham vidas próprias e balbuciavam um ligeiro sorriso, que queria eu apoderar-me, encaixotá-lo e subtraí-lo, como merecedor de imensurável riqueza. 
Neste segundo, de passagem, eram nelas que moravam os sonhos, desilusões e destinos de todos os homens. 
E em poucos minutos, de rastro, encontro a paz em seu corpo sereno, onde descansam fracos e fortes, e onde fenecem amores antigos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Eternamente


Um dia eu quero acordar diante da tua beleza
Tua branca e nua beleza
Com o poder de congelar o momento
E apenas nele, viver por toda a eternidade

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Gênesis

Após seu nascimento vieram novecentas feias, novecentas burras e outras tantas haveriam de ser más. Mas Deus, em sua bondade inexorável, não permitiria que o mundo lhe rende-se salvas com adoração divina e olhares de franco-atirador. E eu, que não creio nas armas da inveja, nem na adoração de divindades, prefiro apenas admirar-te com a calidez de quem ama, humanamente, cada desumanidade em seu ser.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Lenda da Insonia

Espero-te na calada da noite, que transforma os morcegos, companheiros, em cornetas que soam a mesma cantiga. Que conta de um homem que vira menino, e espera-te na calada da noite, que transforma os morcegos, companheiros, em cornetas que soam a mesma cantiga. Que conta de um homem que vira menino, e espera-te na calada da noite, que transforma os morcegos, companheiros, em cornetas que soam a mesma cantiga. Que conta de um homem que vira menino...

terça-feira, 19 de julho de 2011

As Uvas

Não é porque você é linda e os seus olhos brilham feito bolas de gude, mas assim, achatadinhas, que os olhos do mundo estejam todos em você. Nem é também porque o seu nariz é perfeito e com seu ar de sem jeito combina qual goiabada com queijo, que ele abrigue o centro do mundo. Muito menos porque o seu ar de soberba transforma em súdito até o rei que mora em sua barriguinha perfeita, que Deus a salvará. Oh, rainha! E o seu perfume, flutuando alheio a cupidez das orquídeas, nem de longe é o perfume de terra molhada que acalma os espíritos. E não é porque você é perfeita e você é de marte, assim, inatingível, que deixarei de ser a raposa engolindo a saliva a contemplar-te em silencio.

Soneto da Flor

Que perfume terá toda flor de Jasmim?
Eu não sinto, tu estás tão distante
Me acalmando o coração errante
Sei que és branca, da cor do marfim.

Que perfume terá esta flor de Jasmim?
Ao meu peito trouxe a primavera
Teu sorriso de uma nova era
E tua boca cruel de carmim.

Que perfume terá minha flor de Jasmim?
Apesar da distância de vida
E o talvez permanente em sua ida

A alvorada me traz a sentença
Na ausência da sua presença
Que é teu cheiro que eu quero em mim.